domingo, 18 de maio de 2008

Objetividade?


Muito se discute, atualmente, sobre objetividade jornalística.

Quando se fala no assunto, logo vem à mente a idéia de textos claros e sucintos que valorizam, antes de tudo, a informação em si, de modo que o leitor possa entender e interpretar a mensagem de acordo com seus conceitos, e não da forma como o meio no qual essa mensagem é publicada deseja.

Entretanto, é impossível que a objetividade, vista dessa forma, aconteça, graças a uma série de fatores, a começar pelo próprio autor do texto: todos nós carregamos uma bagagem cultural diferente, isto é, cada sujeito possui determinados valores e conhecimentos que outros, ainda que de um mesmo grupo, não têm – o que possibilita uma interpretação também diversificada sobre qualquer evento. Assim, não é possível sequer escrever um texto sem a inserção, ainda que indireta, das ideologias de quem o faz.

Além do mais, nessa questão ideológica, é importante observar que as empresas que publicam os textos jornalísticos também possuem visões políticas próprias, e esse fator é muito mais determinante, talvez, que qualquer outro a ser citado.

E há, também, a linguagem, que interfere na mensagem final: o texto chamado “objetivo” costuma ser retratado em terceira pessoa, na tentativa de negar a existência de um “eu”, de uma voz que assuma as idéias nele contidas. Mas para que haja notícia, é preciso haver história, e para que exista história, é necessário “enfeitar” o discurso para criar, quase de maneira teatral, atrativos para o leitor/espectador.

Ora, com tantos recursos gramaticais, conforme o texto Objetividade Jornalística: eis a questão!, o redator assume o papel de “contador de histórias”, uma vez que, apesar de utilizar métodos científicos para a construção de textos, perde-se em superficialidades que servem apenas para entreter os consumidores.

E por falar em entretenimento, eis o problema-chave. Não que a diversão e a ausência de pautas realmente sérias sejam ruins, ao contrário: em uma sociedade capitalista, é fundamental que haja meios de distração e lazer, pois somente desse jeito é possível agüentar as pressões da rotina de trabalho impostas à maior parte da sociedade. Porém a substituição de pautas sérias por entretenimento prejudica de forma imensurável a percepção de mundo de que toda a população necessita.

A disputa acirrada das empresas por um público cada vez maior – situação que se encaixa, obviamente, em um contexto social capitalista – faz com que elas busquem fatos inéditos a serem descritos de modo fantástico, para que o interesse do público seja despertado. Dessa forma, notícias que proporcionam maior número de audiência passam a ocupar o espaço de outras muito mais importantes, ou seja, muitas vezes um acontecimento histórico é sufocado por um caso estrondoso, que não afetará direta ou indiretamente a população, porém é muito mais chocante visualmente.

E, com isso, surge a perda de credibilidade: ora, se um meio de comunicação deixa de noticiar aquilo que é de suma importância para ceder a impulsos meramente lucrativos, perde-se, aí, o respeito pela população; com um feito desses, ausenta-se o discurso central da objetividade jornalística, que é atender à sociedade de forma direta e verdadeira.

Não que a objetividade de uma notícia resuma-se apenas a uma verdade única, sem as ideologias do enunciado, afinal, é humanamente impossível chegar a esse ponto; ao contrário, a objetividade jornalística é descrita em diversos manuais e por inúmeros autores mais como um método a ser buscado que como uma doutrina. Ela surge para orientar o trabalho do jornalista em sua pesquisa diária: é na objetividade que se encontram os princípios básicos do jornalismo como, hoje, é conhecido, tanto nas empresas como no meio acadêmico, e é, muitas vezes, só por discórdia e visão preconceituosa de um modelo americano (já que os EUA foram os maiores responsáveis pela implantação do modelo jornalístico atual) que criticam a objetividade, que nos trouxe noções importantes, como a distinção entre opinião e notícia, além da obrigatoriedade de precisão, interesse, veracidade etc.

Portanto, é a preocupação com o mercado antes da preocupação com a seriedade que transforma o conceito de objetividade jornalística em mera utopia. Isso porque, apesar de nenhum texto, como fora afirmado anteriormente, estar livre de ideologias, é possível, sim, construir bons argumentos, notícias que permitam ao público refletir e tirar conclusões próprias, apresentar todas as versões de um fato. Ao subestimar ou ignorar acontecimentos importantes, porém, que qualquer indício de objetividade – em um contexto geral, e não subestimando o trabalho de apuração, que pode ser muito objetivo, do jornalista – é perdido e torna-se irrevogável.

Para ler mais

Objetividade jornalística: is a questão

Crítica ao desconstrucionismo do jornalismo

Um comentário:

jornalismo disse...

Olá!
eu faço faculdade de jornalismo também, estou fazendo um artigo sobre Objetividade Jornalística, adorei seu texto! muito bom.
Onde vc faz faculdade?